O outro sentido

Desde pequeno que tenho um comportamento estranho, bizarro até. Isto sempre preocupou a minha mãe, ao ponto de já não saber o que fazer comigo.
Ainda me lembro da primeira vez que me consciencializei que tinha este dom. Um dom muito especial que me permitia olhar mais longe e mais fundo.
Á medida que o tempo passou, este dom foi-se tornando numa maldição. Não me conseguia ver livre dele.
Se umas vezes se mostrou útil, noutras, na maior parte, tornou-me num marginal, um inadaptado.. A verdade é que preferia não possuir esta coisa.
No outro dia virei-me para a minha mãe e disse-lhe, enfim, o que me tem atormentado durante toda a minha vida.
Estávamos os dois na fila da Segurança Social, parados no mesmo sítio há muito tempo. Eu disse-lhe que sabia porquê que a fila não andava. Disse-lhe que uma coisa horrível estava a acontecer lá á frente. Um funcionário público estava a agoniar terrivelmente um utente. Ela inclinou-se e disse-me que não conseguia ver; olhou horrorizada para mim e perguntou, preocupada comigo, se estava de facto a ver aquele episódio macabro.
Comecei a chorar; ela também, aflita.
Finalmente peguei-lhe na mão e perguntei-lhe se se lembrava do homem que tinha feito as obras lá em casa; aquele muito estúpido que tinha feito tudo mal e levado uma roubalheira. Ao que ela respondeu que sim. Eu disse-lhe que costumava vê-lo muitas vezes. Ela perguntou-me como é que isso é possível; como é que eu tolerava vê-lo sem ficar físicamente doente. Ao que eu respondi:

- Mamã, I can see dumb people!

Choramos muito pela minha infelicidade e triste destino.

Comentários

Avelã disse…
deixa-me adivinhar, viste o sexto sentido no fim de semana
moimeme disse…
Tenus muitos poderes... tens tens!
André disse…
Só o de fazer rir...às vezes.
alfabeta disse…
Eu sabia que havia aí qualquer coisa fora do normal, lol

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