Um autocarro chamado desprezo
Mais uma vez quase fui atropelado numa passadeira.
Desta vez, o veículo em questão não só me atropelaria como me passaria a ferro - um autocarro carregadinho de velhas com sacos de compras cheios de presentes dos trezentos.
Ao atravessar a passadeira fiz como sempro faço: olhei para os dois lados, fiz uma pequena pausa a meio da estrada, por precaução, e olhei novamente para os dois lados - Descobri à algum tempo atrás que este ritual me manteria vivo por mais tempo.
Mas, como estava a relatar, a meio da estrada, e a meio do meu ritual, um autocarro começou a aproximar-se e a sua redução da velocidade era notória. O que me levou a crer que este me tinha visto e que me iria deixar passar. Certo? Errado!
Recomecei a atravessar a metade da estrada que me faltava; o autocarro continuava a aproximar-se, mas desta vez já não reduzia a velocidade, mas, estranhamente, intercalava o aumento e a redução desta como se de soluços se tratassem. Parou a uns cinco centímetros do meu corpinho, que já tremia agora.
Depois disto, fiz o que manda a lei: olhei com um ar aviltado para o motorista; levantei vagarosamente os braços e descrevi no ar uma espécie de bater de asas; e ao mesmo tempo disse "Então!?". Nisto, e perante a catatonia do motorista, uma velha que vinha entalada entre os passageiros e o vidro da frente começou a bater com o punho no vidro. Imaginei que quisesse chamar a minha atenção, então olhei para a velha... Estava furiosa, e fazia sinal para os seus olhos. Uma gesticulação que eu entendi de duas maneiras: ou que eu devia ter olhado (mais ainda) antes de atravessar, ou que se tinha magoado nos olhos com a travagem brusca... Não ficaria calado e disse-lhe, nitidamente descontente e apontando para baixo, "passadeira!".
O motorista, perante isto tudo, que deve ter demorado cerca de cinco segundos, permaneceu impávido e sereno, não disse nem ai, nem ui. Ficou ali, com cara de parvo a olhar para mim. Irritou-me ainda mais, mas continuei a minha demanda pelo passeio do lado de lá.
Depois desta atribulada e dramática aventura fiquei com o olhar. E agora, de vez em quando, ouço música do Ennio Morricone na minha cabeça.
Desta vez, o veículo em questão não só me atropelaria como me passaria a ferro - um autocarro carregadinho de velhas com sacos de compras cheios de presentes dos trezentos.
Ao atravessar a passadeira fiz como sempro faço: olhei para os dois lados, fiz uma pequena pausa a meio da estrada, por precaução, e olhei novamente para os dois lados - Descobri à algum tempo atrás que este ritual me manteria vivo por mais tempo.
Mas, como estava a relatar, a meio da estrada, e a meio do meu ritual, um autocarro começou a aproximar-se e a sua redução da velocidade era notória. O que me levou a crer que este me tinha visto e que me iria deixar passar. Certo? Errado!
Recomecei a atravessar a metade da estrada que me faltava; o autocarro continuava a aproximar-se, mas desta vez já não reduzia a velocidade, mas, estranhamente, intercalava o aumento e a redução desta como se de soluços se tratassem. Parou a uns cinco centímetros do meu corpinho, que já tremia agora.
Depois disto, fiz o que manda a lei: olhei com um ar aviltado para o motorista; levantei vagarosamente os braços e descrevi no ar uma espécie de bater de asas; e ao mesmo tempo disse "Então!?". Nisto, e perante a catatonia do motorista, uma velha que vinha entalada entre os passageiros e o vidro da frente começou a bater com o punho no vidro. Imaginei que quisesse chamar a minha atenção, então olhei para a velha... Estava furiosa, e fazia sinal para os seus olhos. Uma gesticulação que eu entendi de duas maneiras: ou que eu devia ter olhado (mais ainda) antes de atravessar, ou que se tinha magoado nos olhos com a travagem brusca... Não ficaria calado e disse-lhe, nitidamente descontente e apontando para baixo, "passadeira!".
O motorista, perante isto tudo, que deve ter demorado cerca de cinco segundos, permaneceu impávido e sereno, não disse nem ai, nem ui. Ficou ali, com cara de parvo a olhar para mim. Irritou-me ainda mais, mas continuei a minha demanda pelo passeio do lado de lá.
Depois desta atribulada e dramática aventura fiquei com o olhar. E agora, de vez em quando, ouço música do Ennio Morricone na minha cabeça.
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